Políticos e famílias
influentes do século passado foram “imortalizados” com as homenagens,
mas também há deferência a figuras folclóricas, fundadores das cidades e
até personagem do Brasil Império, como é o caso de Princesa Isabel, no
Sertão.
A Revolução de 30,
capítulo importante na história da Paraíba, transformou a capital
Parahyba em João Pessoa e ainda rendeu homenagem aos interventores
Antenor Navarro (hoje São João do Rio do Peixe), no Sertão, e Juarez
Távora, no Brejo.
Personagens menos
conhecidos como Pedro Régis, Caldas Brandão, Bernardino Batista e Gurjão
também figuram no rol de homenageados. No Sertão, as famílias Vieira e
Mariz tiveram seus nomes associados a “polis” (que remete a “cidade” no
grego) e, inevitavelmente, passaram a fazer parte da memória dos
habitantes de Vieirópolis e Marizópolis. O Sertão também protagonizou o
caso mais recente de mudança de nome de um município. A cidade de
Santarém virou Joca Claudino, em homenagem a um empresário da região
sertaneja.
A mudança ocorreu em
novembro de 2010, após votação unânime na Câmara de Vereadores e sem
realização de plebiscito. Segundo o radialista e professor de História
Chagas Amaro, a decisão ainda gera polêmica entre os habitantes.
“Houve o apoio de parte
da população, mas muitos moradores não aceitam a mudança. Não é raro
recebermos ligações de ouvintes que se identificam como moradores de
Santarém e fazem questão de ressaltar que não pertencem a Joca
Claudino", contou o professor.
Segundo o site oficial da cidade, “Joca era natural de Santarém e pai do empresário João Claudino, presidente do grupo Claudino.
Ele é considerado um dos
maiores benfeitores da cidade”. O texto que explica a mudança do nome
também afirma que “ficou estabelecido que não houve a necessidade de um
plebiscito, pois já foi registrado um abaixo assinado, ao qual consta a
assinatura de mais da metade da população do município”.
Professora aponta instrumento de poder
De acordo com a
professora Regina Célia Gonçalves, do Departamento de História da
Universidade Federal da Paraíba, nomear é um instrumento de poder e os
nomes estão sempre ligados a uma memória coletiva. “Partindo dessa
ideia, podemos pensar que a memória coletiva dialoga com a história.
Portanto, quando se dá um nome, é fixada uma memória coletiva que nunca é
neutra e representa determinados interesses sociais, coletivos e de
grupos específicos”, afirmou Regina Célia.
A professora também
ressalta que existe uma hegemonia no Brasil de uma história marcada por
grandes nomes. “Se a gente verificar algumas cidades, veremos que estão
relacionados à história dos vencedores. Nomes de políticos,
administradores ou pessoas com grande poder econômico”, analisa. Regina
Célia lembra que o Poder Legislativo também representa o interesse
dessas pessoas e afirma que falta senso crítico no parlamento. “Os
vereadores, ora por falta de atenção ao aspecto da memória, ora porque
estão ligados a grupos econômicos, mostram muitas vezes uma total falta
de conhecimento e senso crítico sobre a comunidade”, completou.
Ela lembra que a memória
tem um papel fundamental para a sociedade, mas que ela está ligada aos
vitoriosos. “O território paraibano era dos potiguaras, mas quando eles
foram derrotados no período colonial, simplesmente desapareceram da
Paraíba. Com isso, a memória deles aqui foi silenciada. Já os tabajaras,
aliados dos portugueses, possuem o nome preservado através de ruas e
rádio. A memória dos vencedores acaba presente em toda a sociedade e
nunca a dos primeiros donos de terra, índios, escravos e soldados”,
comentou Regina.
João Pessoa ainda provoca discussão
Antes de se tornar João
Pessoa, a capital paraibana teve outros nomes: Nossa Senhora das Neves
(1585 - 1588), Philipéia de Nossa Senhora das Neves (1588 - 1634),
Frederica (1634 – 1654) e Parahyba (1654 - 1930). O nome atual é uma
homenagem ao político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque,
assassinado em 1930 na cidade do Recife, quando era presidente do Estado
e concorria, como candidato a vice-presidente da República, na chapa de
Getúlio Vargas. A homenagem ao estadista, no entanto, ficou balançada
há cerca de cinco anos, depois que o vereador Fuba suscitou a
possibilidade de um plebiscito para mudar o nome da cidade.
“Eu não propus a mudança
do nome, apenas mencionei o artigo da Constituição que versa sobre a
realização de um plebiscito para saber do povo de João Pessoa qual é o
nome de preferência (Art. 82 das Disposições Constitucionais
Transitórias). Lembro que a Constituição é de 1989. Não é uma invenção
recente”, declarou o vereador Fuba. No livro “Parahyba 1930 – A verdade
omitida” (edição esgotada), Fuba diz que o corpo do estadista teria sido
usado como um mártir da Revolução, mas que a motivação do crime teria
sido passional.
"Os líderes contam que
foi um momento histórico, mas na verdade foi um golpe de Estado.
Transformaram João Pessoa no líder, mas tudo não passou de uma grande
farsa”, afirma.
O historiador José
Octávio de Arruda e Melo, autor do livro “História da Paraíba Lutas e
Resistências” (13ª edição), conta que a morte de João Pessoa causou
grande comoção popular e foi considerado o estopim da Revolução de 1930.
“Depois da morte, o povo foi para frente da Assembleia. O assassinato
gerou uma comoção enorme”, conta o historiador.
MILANEZ
O vereador Fernando
Milanez, sobrinho neto de João Pessoa, acredita que não há razões para a
mudança no nome da capital, principalmente porque não houve fato
histórico mais importante no Estado do que a Revolução de 30.
Larissa Claro
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