segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fatores emocionais por trás do sequestro: Delegado esclarece caso e jovem responde em liberdade



O próprio delegado Cristiano Santana, que apura o caso, surpreendeu-se com a história. Parece enredo de ficção o que aconteceu no começo da noite da sexta-feira, 6, entre Itaporanga e Boa Ventura, mas o drama foi real e lamentável, principalmente para as famílias envolvidas: gente de bem que, de repente, foi levada a um episódio carregado de sofrimento para todo mundo.

Um ato produzido por uma jovem de 21 anos e resultado do difícil quadro emocional que  passou em face da perda de uma gravidez e a crise que enfrentava no namoro. Sem antecedentes criminais, estudiosa, trabalhadora e de família respeitada e séria da cidade de Mari, a acadêmica em direito Mayara Rafaela da Costa Ferreira, por um momento, perdeu a razão, e cometeu um crime grave, que teve e ainda terá fortes implicâncias em sua vida pessoal e profissional.

Ela foi autuada na manhã desse sábado, 7, pelo delegado Cristiano Santana por sequestro de uma criança de seis meses e tentativa contra outra de dois, mas sua família pagou fiança de 1.500 reais e a jovem retornou a Mari, onde vai responder ao processo em liberdade e certamente também deverá ser submetida a um tratamento psicológico. Mesmo em caso de condenação, é pouco provável que ela seja presa, mas uma sentença condenatória será terrível para sua vida:  não poderá ocupar emprego público e terá uma vida profissional limitada.

O delegado conseguiu esclarecer todo o caso a partir do depoimento da acusada, das vítimas e testemunhas. Segundo dr. Cristiano, tudo começou quando a jovem, que mora em Mari, mas namorava com um rapaz de Ibiara, perdeu uma gestação de cinco meses supostamente dele. O filho seria importante para ela reatar o namoro, que vinha desgastado, o que a deixava muito sofrida em face do grande sentimento que nutria pelo namorado.

Já sem a gravidez, ela também temeu perder definitivamente o relacionamento, o que fez com que escondesse para o namorado e a família dele o abordo involuntário. Por isso, quando aumentaram as pressões para que ela mostrasse o filho que dizia ter, Mayara resolveu ir a Ibiara e planejou chegar lá com alguma criança para forjar a maternidade.

Conforme o delegado, ela saiu de Mari e combinou com o namorado que fosse buscá-la em Diamante, mas desceu em Itaporanga, onde começou a procurar uma criança que pudesse servir ao seu plano. Daqui, ela seguiu em um carro de linha até Boa Ventura, e, no trajeto, conheceu dona Luíza Felix e seu neto. O menino vive com os pais em Itaporanga, mas foi passar o final de semana com a avó. Era a criança que ela iria sequestrar mais tarde.

A mulher e o menino desceram no sítio Várzea da Cruz, município de Boa Ventura, e a jovem seguiu para a cidade boaventurense. “Na parada do carro, ela ficou observando a casa onde a mulher entrou, certa de que poderia voltar ao local mais tarde, como, de fato, voltou”, contou o delegado durante contato com a Folha, ao opinar que a moça planejou tudo minuciosamente, mas acredita que a jovem não estava mentalmente normal: “logo quando ela chegou à delegacia na noite em que foi presa, não falava coisa com coisa: era confusa e desarticulada, mas, no dia seguinte, durante o depoimento, já havia melhorado um pouco”.

Ao chegar à cidade de Boa Ventura, conforme ainda o que apurou a polícia, ela tentou sequestrar uma criança de dois meses, filha da dona de casa Maria do Socorro. Ofereceu à mãe um enxoval infantil e queria uma oportunidade para tomar a criança, mas a mulher desconfiou e ela foi embora, seguindo para Diamante, onde se encontrou com o namorado, conforme combinado. O rapaz teria se surpreendido ao ver Mayara sem o filho, mas ela disse que a criança estava na casa de uma amiga em Boa Ventura, intencionada a se apropriar indevidamente do menor que havia conhecido na viagem instantes atrás.

Ao chegar ao sítio Várzea da Cruz, ela entrou na residência da dona Luíza e inventou uma história que uma mulher que tinha vindo no mesmo carro que elas havia sido morta e que o delegado queria ouvir a dona de casa. Acreditando na história, a moradora ficou preocupada e, no momento que foi trocar de roupa para seguir com a acusada, a jovem pegou a criança e entrou no carro. O veículo foi seguido por um vizinho de moto, que percebeu a ação criminosa da estudante.

O destacamento local da Polícia Militar também foi acionado e interceptou o carro na saída da cidade em direção a Ibiara. A criança foi entregue a avó e o casal levado para a delegacia de Itaporanga, onde o rapaz foi liberado e sua namorada indiciada.

Sobre o crime de sequestro:
Conforme o delegado Cristiano Santana, o crime de sequestro, cuja pena é de um a três anos de prisão, é afiançável. Por isso, a acusada, depois do pagamento da fiança arbitrada, foi solta para responder ao processo em liberdade. Já o crime de extorsão mediante sequestro, que é quando o criminoso exige dinheiro para libertar a vítima, é um delito hediondo e, portanto, inafiançável, de acordo com a autoridade policial.

Além de todo o transtorno que causou a sua própria família, que ficou muito abalada, principalmente o seu pai, atual vice-prefeito de Mari, ela também proporcionou momentos difíceis para os familiares do jovem com quem namorava e para ele próprio. Eles foram surpreendidos pela informação que o rapaz tinha sido preso, mas o alívio veio com a soltura dele sem indiciamento. “Não há elementos que provem que o rapaz sabia, e ela própria confessou que fez tudo sem o conhecimento do namorado”, informou o delegado.

Mas a maior angústia foi vivenciada pelas famílias das vítimas: os pais da criança de seis meses chegaram à delegacia atordoados e somente depois que reencontraram o filho é que tiveram sossego, mas o trauma dificilmente será superado. O menino, no entanto, apesar do momento conturbado que viveu, em nenhum instante se abalou. Os familiares do outro bebê que sofreu tentativa de sequestro também compareceram à polícia para prestar depoimentos e estavam igualmente muito assustados.

Fonte: Folha do Vali

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